Irmandade Muçulmana é declarada ‘grupo terrorista’ no Egito
A Irmandade Muçulmana, principal movimento político do Egito e grupo do ex-presidente Mohammed Morsi, foi declarada “terrorista” pelo governo interino instaurado pelos militares.
O governo interino tomou a decisão após um atentado atingir a sede da polícia egípcia no início da semana. O Egito vive sob forte tensão política desde a deposição do ex-presidente Morsi por uma junta militar em julho.
A Irmandade Muçulmana negou responsabilidade no ataque, assumido por um grupo ligado à rede Al Qaeda.
Milhares de integrantes do grupo foram presos nos últimos meses, após protestos do grupo. A Irmandade Muçulmana ficou na clandestinidade durante a ditadura militar que governou o Egito na segunda metade do século 20.
Morsi é mantido preso desde sua deposição. A Irmandade Muçulmana conquistou o poder nas primeiras eleições livres no Egito, após a queda do regime militar de Hosni Mubarak, em meio a uma onda de protestos na esteira na chamada Primavera Árabe.
A liderança do grupo, que hoje se encontra no exílio, disse que os protestos contra o governo interino implantando pelos militares deve continuar.
‘Horrorizado’
O anúncio foi feito pelo vice-primeiro-ministro do Egito, Hossam Eissa, que afirmou que a partir de agora as autoridades terão mais poderes para reprimir os membros da Irmandade Muçulmana.
Eissa disse que membros, financiadores ou quem estiver promovendo as atividades do grupo serão punidos.
A decisão é uma resposta ao atentado suicida à sede da polícia no distrito de Mansoura, que deixou 16 mortos e mais de cem feridos, segundo o governo.
“O Egito está horrorizado, de norte a sul, com o crime odioso cometido pela Irmandade Muçulmana”, disse Eissa.
“Isso (ataque) se deu em um contexto de uma perigosa escalada da violência contra o Egito e os egípios e de uma clara afirmação da Irmandade Muçulmana de que o grupo não conhece nada além da violência”, disse.
O governo egípicio disse que irá notificar os demais países árabes da decisão. Desde 1998, a região assinou um tratado antiterrorismo.
Um dos líderes do grupo no exílio, Ibrahim Munir, disse à agência France Presse em Londres que a decisão “não é legítima” e afirmou que “os protestos vão continuar, certamente”.
Clandestinidade
Simpatizantes da Irmandade Muçulmana vêm organizando protestos desde a deposição de Morsi, em julho.
O primeiro governo democraticamente eleito do país não resistiu à presão dos setores seculares do Egito, incomodados com a crescente influência islâmica nas políticas públicas do país.
Sob o governo de Morsi, o Egito ganhou uma constituição considerada pró-Islã, o que despertou o temor em grupos seculares e na minoria cristã de que o país pudesse virar uma teocracia.
Morsi foi derrubado após imensas manifestações populares de grupos contrários à interferência religiosa na polícia.
O movimento, que tem 85 anos, já havia sido banido no Egito em 1954, no início do regime militar – que se estendeu até o governo de Mubarak.
Para tentar driblar novamente a clandestinidade, o partido se registrou como uma ONG em março deste ano.
Oficialmente, o partido da Irmandade Muçulmana é o Partido da Liberdade e Justiça, criado em 2011 como uma agremiação “não-teocrática” após a queda de Mubarak.
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Fonte: BBC Brasil
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